O corpo articula energia, podendo ser agente provocador, de uma experiência livre de sentido, que não consiste na atualização de um real e de um significado, mas é experiência do potencial” (LEHMANN)
Brincando com o Som e Terapia Sonora. Encontrando ritmos com sons especialmente desenvolvidos para a musicalização e relax. O desenvolvimento da consciência do fluxo interno de energia na dança corpórea das palavras pode ser ativado por meio dos sons vocais, tons e mantras. Sons dos elementais, das vibrações emitidas ao mundo. Este intercâmbio entre as artes misturando o plástico, a música e a arquitetura passou a ser designado sound art – arte sonora.
* Pau de chuva
* Meditação com sons xamânicos
* Meditação e respiração
* Percussão e técnicas mescladas para o movimento
* Criatividade sonora entre técnicas diversificadas,
espaço e tempo na arte sonora
Contato e informações, agenda personalizada.
integrativas@gmail.com
PROJETO ATELIER STELLAR ✰
Na concepção ocidental, o som sempre teve algo de misterioso. Onipresente e, ao mesmo tempo, evanescente, o som não se rende facilmente a um raciocínio acostumado com coisas, locais e configurações estáveis.
A sensação de ouvir foi, durante séculos, dominada pela percepção visual. Mesmo que pesquisas científicas mais recentes tenham recuperado este sentido enquanto seus aspectos físico, cultural e mesmo social, discursos analíticos no campo da antropologia permanecem centrados no imagético e são poucos aqueles que contrapõem a discussão sobre o som à predominância da visualidade nas ciências humanas e sociais.
Até o passado recente a música muitas vezes foi tratada de forma vaga, ou mesmo ensaística por parte de antropólogos. Exemplo ilustrativo disso encontra-se no Tristes trópicos, onde Claude Lévi-Strauss relata como sai à noite com alguns amigos Nambiquara, que vão à mata escura construir as suas flautas sagradas. Os misteriosos sons nambiquara que ouve no meio da noite remetem o autor a um trecho da Sagração da primavera de Igor Stravinsky. Lévi-Strauss menciona precisamente os compassos da obra de Stravinsky, que a seu ver se assemelha com a música dos flautistas nambiquara. Evidentemente que isso é um ensaio mais literário do que uma etnografia musical, pois sobre as flautas e a música dos Nambiquara nada ficamos sabendo neste relato.
Um mal-entendido comum entre pesquisadores não familiarizados com a documentação musical é que pensam estar analisando e falando de música, quando na verdade discorrem sobre a letra. Isso acontece muitas vezes em trabalhos que versam sobre a MPB. Outros pesquisadores encaram a música na sua acepção mais estreita: quando não sabem ler partitura, deixam a manifestação musical de lado por completo, como se ler partitura fosse sinônimo de entender e pré-condição para falar sobre música. Neste contexto, é importante lembrar que em muitas outras culturas se desconhece um termo, cujo signo seja idêntico ao de "música", "music", "zene", "musique", "Musik" etc. Na realidade música raras vezes apenas é uma organização sonora no decorrer de limitado espaço de tempo. É som e movimento num sentido lato (seja este ligado à produção musical ou então à dança) e está quase sempre em estreita conexão com outras formas de cultura expressiva. Considerar este contexto amplo, quando se fala em música, é estar adotando um enfoque antropológico. A insersão da música nas várias atividades sociais e os significados múltiplos que decorrem desta interação constituem importante plano de análise na antropologia da música. A relação entre som, imagem e movimento é enfocada de forma primordial neste tipo de pesquisa. Aqui música não é entendida apenas a partir de seus elementos estéticos mas, em primeiro lugar, como uma forma de comunicação que possui, semelhante a qualquer tipo de linguagem, seus próprios códigos. Música é manifestação de crenças, de identidades, é universal quanto à sua existência e importância em qualquer que seja a sociedade. Ao mesmo tempo é singular e de difícil tradução, quando apresentada fora de seu contexto ou de seu meio cultural.
O fato de permear tantos momentos nas vidas das pessoas, de organizar calendários festivos e religiosos, de inserir-se nas manifestações tradicionais, representando, simultaneamente, um produto de altíssimo valor comercial, quando veiculada pelas mídias e globalizando o mundo no nível sonoro, faz da música um assunto complexo e rico de possibilidades para a investigação e o saber antropológicos.
Com este ensaio pretendo tocar, de forma introdutória, em alguns assuntos de interesse da etnomusicologia, disciplina que durante longo tempo foi entendida como de natureza híbrida, ou seja, pertencente à musicologia quanto a seus conteúdos e à antropologia quando se trata de seus métodos de pesquisa. Independente deste "dilema", a etnomusicologia estabeleceu-se com centros de estudos e de pesquisa nas principais universidades americanas e européias, firmando-se, cada vez mais, com expressão própria também no Brasil.
Antropologia da música
Falando-se de antropologia do som, ou sonora, dois elementos surgem à primeira vista: o som enquanto fenômeno físico e, simultaneamente, inserido em concepções culturais, e, do outro lado, a música propriamente dita, isto é, o som "culturalmente organizado" pelo homem (humanly organized sound, cf. Blacking, 1973). Os dois parâmetros, a acústica e a cultura, ou seja, o som e as sonoridades, respectivamente, estão presentes na pesquisa etnomusicológica do século XX.
O som, fenômeno singular de um determinado instrumento, de um estilo vocal e, do outro lado, a rede de relações possíveis e necessárias entre diferentes sons, relações estas que são responsáveis por fenômenos como a afinação e a escala ¾ duas abstrações culturais ¾, merece atenção especial da musicologia e da antropologia musical. Esta última desenvolveu-se, inicialmente, como subárea da musicologia, passando por diversas designações, como musicologia comparativa (vergleichende Musikwissenschaft), pesquisa musical etnológica (ethnologische Musikforschung; Marius Schneider 1937), folclore e etnologia musical (musikalische Völkerkunde; Fritz Bose 1952), "antropologia musical", (ethnographie musicale) ou "música dos povos estranhos" (Musik der Fremdkulturen; cf. Curt Sachs (1959)). Por volta de 1950 o musicólogo holandes Jaap Kunst introduziu o termo ethno-musicology. A partir de 1956 esta designação da disciplina consagrou-se internacionalmente com a fundação da Society for Ethnomusicology nos EUA.
Com o seu livro The Anthropology of Music de 1964, considerado decisivo para a abordagem antropológica na etnomusicologia, o antropólogo americano Alan P. Merriam formulou uma "teoria da etnomusicologia", na qual reforçou a necessidade da integração dos métodos de pesquisa musicológicos e antropológicos. Música é definida por Merriam como um meio de interação social, produzida por especialistas (produtores) para outras pessoas (receptores); o fazer musical é um comportamento aprendido, através do qual sons são organizados, possibilitando uma forma simbólica de comunicação na interrelação entre indivíduo e grupo.